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Antes mesmo de assumir, Trump causa turbulências na política mundial

Antes mesmo de assumir, Trump causa turbulências na política mundial

Antes mesmo de assumir, Trump causa turbulências na política mundial
El presidente electo Donald Trump sube al escenario antes de hablar en los premios FOX Nation Patriot Awards, el jueves 5 de diciembre de 2024, en Greenvale, Nueva York. (AP foto/Heather Khalifa) — Foto: Heather Khalifa/AP

Ainda falta um mês para o início do segundo mandato de Donald Trump nos EUA, mas ele já causa ondas de choque pelo mundo.

Suas ameaças de impor tarifas tiveram influência na crise de Gabinete no Canadá que deixou o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, na corda bamba. Na Europa, o temor quanto às tarifas enfraqueceu ainda mais governos que já estavam cambaleantes.

Líderes aliados correm para encontrar maneiras de manter o apoio à Ucrânia enquanto Trump busca um acordo rápido para pôr fim à invasão da Rússia. A perspectiva da abertura de negociações tem levado ambos os lados a intensificarem os esforços nos campos de batalha, com Moscou usando seus mísseis mais avançados e Kiev levando os conflitos até a capital russa, com o ousado assassinato de um general.

No Oriente Médio, os líderes de Israel e Turquia, favoráveis a Trump, vêm se mexendo para conseguir vantagens, enquanto o Irã, sempre um alvo do presidente eleito, sofre com os reveses de seus aliados Hezbollah e Hamas e a queda repentina do ditador que apoiava na Síria.

A China, que até agora em grande medida se salvou dos holofotes de Trump nas plataformas sociais on-line após a eleição americana, vem reforçando suas defesas no comércio exterior em antecipação à forte ofensiva que se prevê do novo governo dos EUA.

“Estamos na velocidade de Trump e queremos resolver as coisas rápido”, disse Keith Kellogg, general da reserva nomeado por Trump como enviado especial para Ucrânia e Rússia, ao programa de TV “Fox Business", em 18 de dezembro, enquanto se preparava para sua primeira viagem à região — antes mesmo da posse do presidente eleito. “Ele fez promessas na trilha da campanha e vamos cumprir essas promessas.”

Embora não seja incomum que líderes políticos, tanto americanos quanto de fora dos EUA, briguem pela atenção de um presidente eleito do país, o grau de influência de Trump antes da posse impressiona.

“Há uma nova luz sobre o mundo inteiro, não apenas aqui”, disse Trump, em discurso em Phoenix, no domingo (22).

A declaração foi feita após ele ter alertado o Panamá de que os EUA se opõem às taxas sendo cobradas pelo uso do Canal do Panamá e que estão preocupados com a crescente influência chinesa sobre a via. Ele chegou a dizer que poderia exigir o retorno do canal ao controle americano.

No cenário interno, Trump passou a semana passada conduzindo as negociações sobre um projeto de lei de gastos para evitar a paralisação da máquina administrativa do governo americano. O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, disse que as autoridades monetárias começam a levar em conta em suas análises algumas das possíveis medidas do presidente eleito, como as tarifas. O mercado acionário dos EUA e o bitcoin tiveram fortes valorizações desde a eleição — movimentos que Trump se vangloria de ser o responsável. Por sua vez, o presidente dos EUA, Joe Biden, praticamente desapareceu do palco.

Para o mundo, essas turbulências são um vislumbre do que o novo mandato de Trump deverá trazer, uma vez que o presidente eleito levará adiante sua agenda “EUA em 1° Lugar” sem muitas das restrições que limitaram seu primeiro mandato. Forças populistas estão em alta em muitos países, posicionando aliados de Trump como contestadores dos líderes do establishment.

Na sexta-feira (20), Elon Musk, o bilionário e confidente de Trump, logo após uma enxurrada de tuítes que influenciou as negociações sobre o projeto de lei de gastos públicos em Washington, direcionou sua atenção à Europa e manifestou apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) como a única forma de “salvar” a maior economia da Europa.

Isso lhe valeu uma repreensão do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, que enfrentará eleições antecipadas em fevereiro, em um momento de queda no apoio a seu partido e de agravamento das dificuldades econômicas. Musk incrementou a pressão no sábado (21) ao pedir a renúncia de Scholz, após um ataque que deixou vários mortos em um mercado de Natal.

No Reino Unido, a ascensão de Trump animou Nigel Farage, do partido populista Reform UK, que na semana passada se reuniu com Musk no resort Mar-a-Lago, de Trump. Parlamentares britânicos estudam mudar as regras de doações para impedir a interferência de Musk.

As apostas mais altas em jogo possivelmente são as da Ucrânia, onde a invasão em grande escala da Rússia já dura quase três anos e o apoio aliado a Kiev mostra sinais de enfraquecimento.

Depois de eleito, Trump não voltou a prometer que conseguiria um acordo para encerrar os combates antes mesmo de assumir o cargo, como fizera na campanha, mas o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já desistiu da exigência anterior de que a Rússia ceda todas as terras ocupadas como parte de qualquer acordo de cessar-fogo.

Em novembro, Scholz, da Alemanha, teve suas primeiras conversas diretas em dois anos com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o que rendeu críticas ferozes de Zelensky. Até agora, quem vinha tentando atuar como intermediário era principalmente Viktor Orbán, da Ucrânia, que simpatiza com Putin, mas também caiu nas graças de Trump.

No domingo (22), o próprio Trump abriu a porta para a possibilidade de uma reunião com o líder do Kremlin, ao dizer que Putin “quer me encontrar o mais rápido possível”.

Scholz declarou neste mês estar “confiante” de que eles podem “desenvolver uma estratégia conjunta para a Ucrânia”. O premiê alemão continua se recusando a fornecer mísseis Taurus de longo alcance à Ucrânia, em divergência com a política de Biden — uma política que Trump considera um erro.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, conversou com Trump por telefone e escolheu Peter Mandelson, veterano do Partido Trabalhista e especialista em comércio exterior, como enviado a Washington. A escolha gerou críticas de Chris LaCivita, ex-gerente de campanha de Trump, que chamou Mandelson de “um completo imbecil”.

A iminente chegada de Trump também entusiasmou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Ele se alinhou ao republicano, que enfrenta menos pressões políticas do que Biden em relação ao número de mortos nos combates na Faixa de Gaza.

Netanyahu também ordenou as forças israelenses a avançarem em território sírio após a queda do governo de Bashar al-Assad. A Turquia, cujo líder também é aliado de Trump, vem ampliando a influência na Síria por meio dos grupos que apoia.

“Todos esses líderes no Oriente Médio conhecem o ex-presidente, agora presidente eleito, conhecem sua equipe, portanto é meio que um momento único na história, no qual você tem dois presidentes, e suas equipes, trabalhando no cessar-fogo ao mesmo tempo”, disse Morgan Ortagus, ex-porta-voz do Departamento de Estado durante o primeiro mandato de Trump, ao programa “Balance of Power” da Bloomberg TV, referindo-se às negociações por um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Na Índia, a chegada de Trump coincide com um Narendra Modi que se sente fortalecido e se prepara para receber Putin pela primeira vez desde a invasão russa à Ucrânia. Modi é um dos líderes mundiais que Trump cultivou por meio de elogios e mostras de amizade.

A China embarcou em algo parecido a uma ofensiva diplomática de sedução, inclusive com aliados dos EUA, antes da posse de Trump — ao mesmo tempo em que prepara ferramentas para uma possível guerra comercial, como restrições à exportação de minerais críticos para os EUA, e sinaliza uma aproximação com Japão e Índia.

“Em 2016, havia uma constante sensação de incerteza, de alarme”, disse Jon Alterman, diretor do Programa do Oriente Médio no centro de estudos Center for Strategic and International Studies. “Agora, há um conjunto de dados bastante sólido sobre como Trump se comportou, como outros países reagiram a ele, o que funcionou bem e o que não.”

Por outro lado, os líderes já vêm aprendendo que estratégias cuidadosamente elaboradas para lidar com o presidente eleito nem sempre funcionam como planejado.

Depois de Trump ameaçar impor uma tarifa de 25% sobre importações do Canadá, Trudeau pegou um avião para ir à propriedade de Trump na Flórida com a ideia de discutir o assunto durante um jantar. Em seguida, ofereceu um plano de segurança de fronteira para aliviar a preocupação de Trump (embora autoridades canadenses digam que o fluxo de migrantes pela fronteira norte dos EUA seja muito pequeno).

A equipe Trump propagandeou isso como uma vitória inicial. “O presidente Trump já está atuando como presidente”, disse Karoline Leavitt, sua futura secretária de imprensa, à “Fox Business” no domingo (22).

Por sua vez, Trump não fez concessões e passou as semanas seguintes “trolando” Trudeau. Sugeriu que o Canadá deveria se tornar o 51º Estado dos EUA e reclamou do desequilíbrio comercial entre os países.

Agora, o governo de Trudeau está em risco após a renúncia de sua principal auxiliar, que mencionou na carta de demissão sua divergência sobre como se preparar para uma possível guerra comercial com Trump e sobre os gastos públicos canadenses.

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